9 maio

Postado por Camilo Cavalcanti Jr. em Renda Fixa | Comentários (2.575)

O Banco Central começou a subir os juros. E agora?

Depois de mais de um ano cortando os juros (de agosto de 2011 a outubro de 2012), e quase seis meses sem alteração na taxa básica, o Banco Central decidiu, na sua última reunião, realizada nos dias 16 e 17 de abril, que era hora de começar o chamado “aperto monetário”, aumentando a Selic em 0,25%, saindo da mínima histórica já alcançada, de 7,25% ao ano, para os atuais 7,50% ao ano.

A decisão, por si só, nos faz tirar algumas conclusões interessantes:

1. Existe uma preocupação do BC com a inflação recente, que alcançou 6,59% no acumulado dos últimos 12 meses. Logo, a sua atuação ao realizar o aperto monetário visa tirar a pressão dos índices de inflação para os próximos meses (mais precisamente, o BC já mira o IPCA de 2014).

2. A inflação está descontrolada? Em termos. É fato que a resposta é não, caso comparemos com a inflação oficial brasileira nas décadas de 80 e 90, que chegou a 2.477% no ano de 1993!!! Por outro lado, levando em consideração a situação atual do país, e a meta de inflação, que é de 4,5% ao ano, com uma folga de 2% pra cima ou pra baixo, estamos em situação um tanto preocupante, já que a banda superior foi rompida. Contudo, o BC reagiu a essa questão com a alta de juros. Resta saber se o ciclo que se iniciou será suficiente para trazer a inflação de volta ao centro da meta no próximo ano.

3. E o BC vai aumentar em quanto a taxa Selic? Essa eu não sei. E de verdade, ninguém sabe dizer isso hoje. Existem muitos cálculos feitos por analistas famosos, usando as mais diversas premissas, e que mostram diferentes números. Entre as possibilidades, o BC pode subir os juros de maneira mais forte agora, para que o ciclo tenha menor duração. Ou, quem sabe, seguir com ajustes moderados, por um período mais longo. Nem mesmo os diretores do BC saberiam dizer isso hoje, mas essas escolhas ditarão o ritmo e a intensidade da variação de preços na economia (inflação) nos próximos tempos.

4. Quer dizer que agora vou perder dinheiro com títulos prefixados? A resposta é não necessariamente, por mais paradoxal que pareça. Os títulos de renda fixa, principalmente os prefixados e os indexados à inflação, têm seu preço baseado na expectativa média do mercado quanto à trajetória dos juros e da inflação do período. Nunca te ensinaram desse jeito antes? Pois é, mas é verdade. Fica um pouquinho mais difícil de explicar, mas é o que vou tentar fazer aqui, lembrando que estamos trabalhando principalmente com o conceito de marcação a mercado. Se você for levar os títulos até o vencimento, essa análise não precisa ser tão profunda.

17. ExpectativasEm 10 de outubro de 2012, o Banco Central, em decisão dividida entre seus diretores, decidiu cortar a Selic em 0,25%, para 7,25% ao ano, acrescentando a seguinte informação: “Considerando o balanço de riscos para a inflação, (…) o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear.“

E o que ele quis dizer com isso? Que, na cabeça dos diretores que participaram desta reunião, a estabilidade dos juros por um período prolongado era a estratégia que melhor se adequava aos seus objetivos. Ao falar desta maneira, o BC manda um recado para os participantes do mercado: trabalhem com a hipótese de taxas estáveis por um bom tempo.

Controlar as expectativas do mercado é parte do trabalho do Banco Central. Essas expectativas são utilizadas por bancos para definirem as taxas de empréstimo de longo prazo, por empresas, para decidir se vale a pena iniciar um projeto ou continuar com o dinheiro aplicado em títulos financeiros, e por gestores de recursos e investidores, para saber em que tipo de títulos investir.

Fazendo algumas contas, conseguimos ter uma ideia do que o mercado está esperando que aconteça num período futuro. Se tivermos uma expectativa diferente daquela precificada neste momento, tomamos a decisão de comprar ou de vender determinado título.

Como eu dizia, de outubro até meados de janeiro, o mercado trabalhava com um cenário de Selic estável a 7,25% ao ano até 2014, quando poderia haver algum ajuste de alta da Selic. Contudo, os dados de atividade (produção industrial e vendas no varejo) de inflação de janeiro vieram mais fortes do que o esperado, de maneira que, começou ali uma mudança na expectativa de alta de juros para o fim deste ano.

Quando o Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mostrou a sua preocupação com estes dados (ainda em fevereiro), muitos começaram a acreditar que viria uma alta de juros no meio deste ano. Veja bem: até pouco mais de um mês antes, nem havia expectativa de alta de juros em 2013! Além disso, a inflação estava dentro da meta.

Com toda essa mudança de expectativas, que foi influenciada pelos dados de inflação e por declarações de diretores do BC e membros do Governo Federal, os títulos prefixados e indexados à inflação passaram por momentos muito difíceis. Alguns chegaram a acumular perdas de mais de 5% no ano! E por quê? Porquê foram comprados a uma taxa que não levava em conta altas de juros neste ano.

17. Trajetórias

E tudo isso aconteceu antes que o BC, de fato, subisse os juros. Porquê são as expectativas, principalmente quanto ao caminho futuro dos juros e da inflação, que movem os preços dos títulos de renda fixa.

Tanto que fica aqui a curiosidade: no dia 17/04, uma LTN (título prefixado) com vencimento em janeiro de 2014, tinha valor de aproximadamente R$ 944, enquanto no dia seguinte à decisão do Copom, seu valor era de cerca de R$ 947. Mas como um título prefixado aumenta de valor se o BC subiu os juros? Simplesmente porque a expectativa majoritária antes da reunião era de uma alta de 0,50%. Quando o BC subiu só 0,25%, esse título recuperou todo o valor perdido quando as expectativas se moveram para uma alta de 0,50%.

O intuito deste texto foi mostrar que não é porque o BC vai subir juros, que nossos títulos vão perder valor. A chave está na expectativa. E se nossa expectativa for realmente a realizada, não vamos perder dinheiro. Mas como fazer para acertar a expectativa? Não existe bola de cristal. Bom senso e algumas continhas realmente ajudam. E quanto mais informação você tiver para montar o seu cenário, melhor!

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